20/02/2011



O que não se evita

Caçamos as dores,
e suas presas eram afiadas.
E soluçamos e nossos olhos lacrimejaram.

Caçamos as dores
com intenção de matá-las,
mas não tinham fim.

Caçaram as dores
meus ancestrais, e foram
derrotados.
Caçamos as dores e seremos também.

E em todo fim de tarde
sinto a umidade desses olhos no espelho,
e as marcas de uma vida de pedra.
Caço as dores.
Sou sua caça.


Três Portas

Quando a escolha é feita
origina-se a dúvida.
Se o certo e o errado
estão distantes apenas um passo,
que não seja o sapato apertado
nem no preço, nem no calo,
nem no pé do aleijado.
Peso pesado na grama, no mato
do ralo jardim da casa do Piripimpim
- amigo do surdo e cego
ao que é dito pelo professor do colégio.
Quando a escolha é feita o salto é dado para o lago,
e se seu chão não é longe não,
pobre do tolo que não conferiu de antemão.
Pois tendo a dúvida data de nascimento,
que não seja ignorância seu alimento.

Quando a escolha tiver de ser feita,
que seja com toda certeza.

Sendo esta difícil de encontrar,
que o coração, então, possa te guiar.


Os discos

Tudo que cala de dores
e tristeza passa,
e apenas se ouve a voz,
mesmo que como choro
e lamentos permanece a voz.

Todo sofrer é válido,
tudo se esquece, caleja.
E mesmo depois,
quando não se percebe a dor,
vêem-se os calos que ficaram.
E não como lembrança da dor,
mas como vitória,
devem ser encarados.

Pois tudo passa,
e ficam apenas as palavras.
Ecoando.


Debaixo desse céu

Ainda estou aqui.
Não me vejo com os mesmos olhos
mas ainda estou aqui.
Não me ouço com a mesma voz
mas ainda estou aqui.
Meus passos seguem por outro caminho
mas ainda respiro.
E vivo.

Tanto aprendi e ainda estou aqui.
Cometendo erros continuo vivo.
E aprendo. E aprendi.

Ainda estarei aqui.
Não me verei com os mesmos olhos
mas ainda estarei aqui.
Não me ouvirei com as mesmas respostas
mas ainda estarei aqui.
Não sentirei os mesmos prazeres,
mas ainda estarei aqui.
E viverei tudo que aprendi.

Sem medos antigos e com novos temores.
Com dores antigas e com novas dores.
Envelheço. Envelheci.

E não verei as mesmas coisas.
Não farei as mesmas coisas.
E com tudo tão diferente e mudado,
com tantos sentimentos calejados
ainda estarei aqui.

Distinção dos cortes
Nessas horas surge,
se faz num disco que não tenho,
e sua voz me ensina sem palavras
e som o que se encontra...

Além daqueles dias
estão os dias antes dos dias,
e as lições que não foram ditas:
- Nem tudo é sorriso quando o espelho embaça,
por trás da neblina encontra-se a lama.
O rosto nem sempre sorri por trás da máscara.

E é assim a solidão:
nunca está só.

Ainda sem a clareza total
de um dia que um dia nasce
se escuta a voz:
- Nem tudo é tristeza quando o espelho embaça,
Escondem a criança os gritos de dor.
Nem todos os cortes são para a morte.

E se ouviu o que permanecerá.
Apenas um segundo e tudo se esclarece:
O ontem morreu,
o agora vive e
o amanhã nascerá.

19/02/2011


"Um sonho vivido sob a sombra de uma árvore, com a doce carícia de uma brisa fresca que trouxe consigo o perfume de outras flores e outras árvores encontradas pelo seu caminho, jamais foi esquecido, talvez pela magia do lugar com toda a mistura de elementos e circunstâncias, talvez pela impossibilidade do sonhador de abandonar tais impressões, talvez pela saudade que sempre retorna com os atalhos para lembranças constituídos por ocorrências que se assemelham às antigas, ou simplesmente por ter sido o sonho mero reflexo de tudo o que encontrou em seu percurso até os dias de hoje."