28/11/2010

Pensamentos surgem muitas vezes sem que saibamos sua origem. Na verdade isso acontece muitas vezes e nem nos damos conta ou não temos motivos para isso, nem tempo, nem paciência. Ocorreu comigo neste exato momento (e talvez você se pergunte se é correto dizer isso, já que o que aqui for escrito ficará gravado por longo tempo, perdendo-se com isso a noção do que seja "exato momento" ou quanto tempo dure.) o pensamento da falta de limites para o encontro daquilo que mais desejamos, sendo para isso necessário apenas o dom do realmente querer. Mas para muitos "apenas" pode ser o nome dado ao imenso abismo que podemos criar caso tenhamos medo ou receio do novo. Cabe a nós. E tudo começa com um simples pensamento.

08/11/2010

Algo terrível aconteceu: perdi o dispositivo de armazenamento onde havia salvo as composições a serem postadas neste blog, e por falta de cautela não as havia salvo em outro local, por isso terei que começar a postar minhas novas composições caso não encontre as antigas. Há ainda uma esperança: o caderno onde rascunhei NOPSE, mas não me lembro se tudo que havia planejado compartilhar havia sido escrito por mim no mesmo.
Aproveitando o ensejo informo que, daqui para frente, não mais numerarei as poesias, lançando-as apenas com o título ao qual atribuirei às explicações das mesmas, mantendo o antecessor "sobre a poesia".
Até lá!

31/10/2010

MOMENTOS 2

Nunca o esquecimento dos sonhos seja presente, pois se entre os percalços dos caminhos tão sombrios houver a ausência da sensibilidade de um simples sorriso, será a falta de rumo o rumo seguido. Seja oposto ao sentido das coisas indesejadas a todos, sem presença de subtração, aquilo que se vislumbre desperto, e assim os dias se seguirão com dificuldade encarada como simples oposição facilmente superável.

10/10/2010

Nem sempre tenho oportunidade de estar diante de um computador com os acessórios de armazenamento em que mantenho o conteúdo programado para esta necrópole, consultando o número de acessos e acrescentando muito pouco ao conteúdo já presente quando encontro pouco tempo para utilizar um. Por isso lançarei uma seção chamada MOMENTOS, onde a voz da inspiração será ouvida pelos olhos daqueles que acessarem este blog:

Se tudo me foge como culpado inimigo.....
Não sou carcereiro de fatos que nada me causaram de nefasto.
Não sou carcereiro de algo que a mim aprisionado sufoca.
Pois se a fuga é a busca de algo melhor, serei eu o culpado,
mesmo sendo culpado meu inimigo.
Quero dizer que a peça teatral "O sexto Grito", postada neste como conclusa, mostrou-se para mim em posterior leitura ser apenas fragmento de algo com maior conteúdo, ficando eu em dívida com os que lêem este blog. Mas não sou caloteiro, acalmem-se, pois o que virá terá maior valor e trará grande satisfação. Aguardem.

10/06/2010

Já faz algum tempo que não posto nada, e não é por falta de vontade (que tenho em excesso, se alguém quiser comprar), mas por faltar-me tempo pelo acúmulo de obrigações que tenho para correção de erros passados, como trabalho e estudos didáticos e doutrinários. É certo também que ninguém comenta nada, então ficamos elas por elas, (ou elas-por-elas), mas aproveitando o ensejo, mesmo não seguindo o cronograma por mim traçado, posto fora da ordem uma música que recentemente compus (sem acordes):

O que fica

Justamente eu
que não queria me envolver
acabei envolvido sem querer.
Agora já não sei
nem o que dizer
que sirva para mim
mais que pra você

Se tudo é um jogo,
sou perdedor.
Se é um sonho,
alguém me acordou.

Mas tudo passa, ouvi dizer,
só fica aquilo que não se pode esquecer.
Mas tudo passa, ouvi dizer,
só fica aquilo que não se pode esquecer.

Você passou em minha vida
e deixou pegadas na trilha da lembrança
que sigo toda noite de
aniversário daquela noite.

Pois tudo passa, pude entender,
só fica aquilo que não se pode esquecer.
Pois tudo passa, pude entender,
só fica aquilo que não se pode esquecer.

E o sabor de novidade,
só é sentido apenas uma vez,
então melhor que eu me lembre
de você como a pessoa que foi
apenas aquela noite.
Apenas naquela noite.

Já não importa quem partiu ou ficou,
vou recordar sem retrato de papel
o nosso beijo de adeus,
vou recordar sem retrato de papel
o seu sorriso mais lindo ficando comigo
como marca que não passa, que maltrata,
que fica e que é...
que fica e que é...

Mas tudo passa, ouvi dizer,
só fica aquilo que não se pode esquecer.
Pois tudo passa, pude entender,
só fica aquilo que não se pode esquecer.

Você...

Apenas aquela noite.

12/05/2010

Peça Teatral

O Sexto Grito

Narrador: Num dos momentos do momento mais escuro da noite sua busca teve início, o primeiro passo da grande jornada havia sido dado sem rumo certo, apenas a certeza de se seguir em frente sempre como único caminho a ser seguido, e o fazia não sem medo, mas com a coragem de enfrentá-lo frente-a-frente.
No principio era só, sempre se é só no principio, e mesmo com mãos trêmulas e suor frio caminhava sem mapa à espera do desconhecido, mostrando o real sentido da coragem.
Érdna: Parou o ponteiro, parou o ponteiro, o relógio está lento parece não passar o tempo a te esperar, onde estarão teus passos largos aprisionados pelo mesmo tempo lento dos apaixonados? Quando estamos juntos este mesmo tempo parece se unir ao vento sem querer parar, e nossos corpos juntos abraçados, sem querer são forçados a se separar. E novamente o tempo, com desdém e sem lamentos, volta a ficar lento a nos torturar. E o relógio seu escravo, por ele é forçado a parar, parou o ponteiro... (canta com um grande relógio em suas mãos, que olha várias vezes)
Carlos: Conheço sua dor de escravo, caro desconhecido, como você sinto o peso das correntes das horas me aprisionando sem piedade alguma a seus desejos egoístas, ora lento ora apressado, contrariando nossas necessidades e desejos. Como você sinto falta de minha amada e sofro com isso pela distância que não pode ser percorrida com passos.
Érdna: Então é meu amigo, se sofre como sofro temos algo em comum e por isso um laço que nos une na dor. Chamo-me Érdna, e qual o seu nome?
Carlos: Carlos, e sinto enorme prazer em conhecê-lo e ao mesmo tempo saber que não sou o único a sentir esta dor, pois já me sentia abandonado em meu sofrimento, incapaz de ser compreendido por qualquer outra pessoa.
Érdna: E o que te aflige? Espera por quem ama como eu?
Carlos: Na realidade corro contra o tempo para resgatar minha amada dos braços do tirano Ehflonn, que a raptou ainda esta noite há algumas horas e pretende levá-la para a região dos desaparecidos.
Érdna: Então faz piada com meu sofrimento, zombando da tristeza de um infeliz prisioneiro? (furioso) Que te fiz para merecer tamanha provocação, fazendo-se de louco mentiroso que acredita no impossível?
Carlos: É a mais pura verdade, vou resgatá-la nem que seja a última coisa que faça enquanto vivo, e quanto ao resto, sempre fui descrente do impossível.
Érdna: O primeiro grito foi dado, faltam cinco, e quando o sexto grito de Ehflonn por todos os povos for ouvido será tarde demais para resgatá-la, pois já terão atravessado a divisa dos que ficam e dos que vão. E você nem ao menos sabe em que direção seguir, assim como a maioria dos que vivem nestas terras.
Carlos: Encontrarei quem possa me ajudar e me vingarei do tirano raptor, seja ele ou não o soberano destas terras que mal conheço, conhecendo mais que o suficiente.
Érdna: Então o apóio por ver a coragem em seus olhos e que não desistirá tão fácil nem tão difícil, lute contra o tempo (atira o relógio ao chão, quebrando-o) e vença o tempo por todos nós, procure o que sabe do espinho no vale dos suicidas, talvez ele possa ajudá-lo por saber de muitas coisas, basta seguir esta trilha para encontrá-lo. Corra amigo, corra! (olha os estilhaços do relógio no chão) Que horas são, quanto tempo falta para ver novamente minha amada? (ajoelha-se e recolhe o que sobrou do relógio, tentando ver as horas. Carlos sai correndo) Que horas são?
Narrador: Ainda só após um pequeno contato com quem conhecia sua dor, Carlos segue em busca de ajuda sem saber o que encontrará e sem ao menos refletir sobre sua situação, como acontece com tantos em situação semelhante. Não posso culpá-lo pelo fato de se deixar tomar pelo desespero que o levou ao labirinto, nem pela escolha de viver novamente sua vida.
Carlos: (correndo pela trilha depara-se com um grande espelho, e seu reflexo, com sua própria voz, começa a falar) Não faça isso, não procure o que sabe do espinho, ele não poderá ajudá-lo.
Carlos: Como não? Meu amigo me aconselhou a procurá-lo dizendo que ele poderia me ajudar por saber de muitas coisas, e talvez até saiba a direção que devo seguir para encontrar a região dos desaparecidos antes do último grito. É o que farei!
Reflexo: Realmente ele sabe sobre muitas coisas, mas nenhuma que interesse a seu objetivo pelo preço que será cobrado, se ele convencê-lo a usar o espinho você se tornará um escravo de seu conhecimento e isso não o ajudará, e posso afirmar que ele sempre encontra um meio de convencer os outros a fazerem o que ele quer.
Carlos: É um risco que devo correr, não tenho outra escolha e nem tempo (nisso ouve-se o segundo grito de Ehflonn, como um sussurro do vento: Ana, Ana...), o segundo grito, tenho que correr.
Reflexo: Espere, retire um espinho deste espinheiro e leve-o com você, e não se esqueça de ser forte. (Carlos retira um espinho e corre)
(Chegando ao vale dos suicidas ele pára, cansado da corrida, e se depara com várias pessoas agachadas furando o pulso com um espinho, alguns correm na direção oposta, outros permanecem como estão)
Carlos: (aproximando-se de um desses) – Onde encontro o que sabe do espinho? Ele está por aqui?
Suicida I: É amigo ou inimigo? Não posso dizer sem saber.
Suicida II: (aproximando-se) – Quem é esse aí? O que ele quer?
Suicida I: Ele procura o que sabe.
Suicida II: Você é amigo ou inimigo que não sairá mais daqui?
Carlos: Sou alguém que precisa da ajuda dele, só isso.
Suicida I: Precisa da ajuda dele é? (rindo). É, com certeza ele pode ajudar. (sai andando) Me segue sua lesma (diz irritado e Carlos o segue).
Suicida I: (chamando) Odnan, Odnan, tem mais um aqui pra ajudar (ri).
Odnan: Deixa ele aí e volta pro vale logo, seu merda. (olhando-o de cima a baixo, rodeando-o) Então você precisa de ajuda, e como posso ajudá-lo? Quer um espinho pra diminuir a dor?
Carlos: Não, quero apenas uma informação, soube que você sabe de muita coisa.
Odnan: Sim, sei de muita coisa, mas preciso de algo em troca para ajudá-lo, antes de qualquer coisa, só pra que você saiba como as coisas funcionam por aqui.
Carlos: Eu imaginava isso.
Odnan: E o que é que você quer saber?
Carlos: Onde fica a região dos desaparecidos, onde habita Ehflonn.
Odnan: (rindo) Certo, certo, quer saber sobre a localização da morada de Ehflonn, tá. E você acha por acaso que eu sei?(irritado). Seu aventureirozinho de merda, vem tomar o meu tempo com idiotices.
Carlos: Dou o que você quiser em troca de uma informação qualquer que me ajude a encontrar o que procuro.
Odnan: Certo, mostre-me seu pulso esquerdo, é está intacto. Acho que sei de alguém que pode ajudá-lo e falo pra você por apenas dez gotas de seu sangue. Feito?
Carlos: Sim, empreste-me um canivete, pois tenho pressa em minha busca.
Odnan: Não, não é tão simples assim, deverá furar seu pulso com o espinho que vou buscar rapidinho, já que tem tanta pressa não é?
Carlos: Então vá logo, por favor.
(Odnan sai e, durante sua ausência, ouve-se o terceiro grito de Ehflon, os suicidas dançan ao seu redor uma dança estranha enquanto imitam o grito: Ana, Ana... até partirem poucos segundos antes do retorno do que sabe do espinho).
Odnan: Aqui está (entrega o espinho com uma mão e com a outra uma pequena garrafa), deixe dez gotas de seu sangue nesta garrafa e te direi o que sei.
Carlos: Pode me deixar sozinho por um momento para eu fazer isso?
Odnan: Mas é claro, se você está com... vergonha (diz com ironia e sai).
Carlos: (joga o espinho e retira do bolso aquele que havia pegado no espinheiro junto ao reflexo, fura o pulso e deixa as dez gotas caírem na garrafa). Pronto Odnan, aqui está (Odnan se aproxima e Carlos levanta-se) agora me diga o que quero saber.
Odnan: Com todo o prazer: vê aquelas três árvores naquele monte? Chegando lá siga a trilha que começa na do meio até encontrar o ajoelhado, ele era um dos meus servos e quis atravessar a divisa antes de sua hora, mas Ehflonn o baniu de lá e agora ele permanece ajoelhado em nome de seu “arrependimento” (ri) pobre coitado. Agora vá, se conseguir sair daqui (ri).
Carlos: (sai, atravessando o vale)
Narrador: Após os primeiros passos de sua busca, Carlos já não conseguia pensar em outra coisa a não ser em sua amada e seu resgate, e isso se transformou em obsessão descontrolada pelo acréscimo de outras recordações anteriores. Assim como todos ele tinha opções variadas, mas a dor da perda da garota que amava cobria seus olhos a todas as alternativas possíveis, o que o fez enxergar apenas uma escolha e seu passo seguinte foi o de cancelar aquilo que não lhe agradava mais. Havia resolvido apenas viver novamente a sua vida. (escuta-se o grito de Carlos e um tiro: Ana...)
Carlos: (encontrando o ajoelhado) Creio ser você o único que possa me ajudar no momento (nisso ouve-se o quarto grito: Ana, Ana...) e tenho pressa, já que meu tempo está se esgotando.
Ajoelhado: Não poderá resgatá-la, é a vontade de Ehflonn e nada pode ser feito a respeito disso.
Carlos: Mas ela é muito nova para partir e eu muito novo para viver sem ela, e não será possível continuar sozinho, pois me sinto muito fraco sem a presença e o amor dela. Muito vazio. (chorando) Eu a amo mais que tudo nesta vida, ela é a minha vida, e agora ela se foi.
Ajoelhado: Não podemos entender os desígnios de Ehflonn, mas tudo o que ele faz tem um motivo e toda causa tem seu efeito, coisas ruins podem acarretar coisas boas e vice-versa, e a nós cabe apenas a espera. Apenas a espera.
Carlos: Não vou esperar que tudo melhore com o tempo da mesma forma que não vou esperar pelo último grito de Ehflonn, apenas peço sua ajuda para poder encerrar minha busca e ter minha vida de volta.
Ajoelhado: Vejo que é um rapaz persistente, mas isso nem sempre é bom se não houver controle e um dia você verá isso, um dia sempre vemos o que deve ser visto. Vou ajudá-lo por apreciar seu amor, mas o alerto que isso apenas servirá para você ver que não se pode mudar o que está destinado a acontecer. Seu tempo é curto e a noite se aproxima, siga o sol até o anoitecer e quando for noite siga a lua sem se importar com a direção que ela leva, ao amanhecer terá chegado à divisa. Antes, ao encontrar a Senhora das Multidões, escute com atenção o que ela disser, e só depois siga em frente. Agora vá. (Carlos parte e o ajoelhado permanece nessa posição, olhando-o partir com um braço levantado em sinal de despedida)
Senhora das Multidões: (de frente para o público) Nem sempre ouvimos das vozes o que queremos ouvir, pois não é nossa voz.
E, às vezes, não ouvimos das vozes o que queremos ouvir, mesmo sendo nossa voz, pois às vezes dizemos o que sabemos sem nos darmos conta de que sabemos.
Nem sempre o coração segue a razão, pois a razão, muitas vezes, não tem sentimento.
E nem sempre a razão segue o coração, pois o coração, muitas vezes, age por impulso.
No meio de tudo ficamos nós, confusos e desnorteados, pois não sabemos ouvir.
Carlos: (ajoelhado) Sem saber ouvir, sem saber qual voz devemos seguir, o que fazemos, grande Senhora, para que nossa vida não caia no caos profundo dos vários erros cometidos pela ignorância?
Senhora: Escolher entre o ouvido da razão e o ouvido do coração aquele que nos guiará para o caminho que devemos seguir.
Carlos: E se fizermos a escolha errada, perderemos nosso tempo no caminho errado?
Senhora: Não meu querido, o tempo nunca é perdido e sim acrescentado se fizermos o que achamos ser o certo. Além disso, não devemos esquecer que nossos passos podem nos levar aonde desejarmos não importando o caminho em que estamos, e cedo ou tarde nosso caminho nos é revelado. Siga o seu agora, pois o tempo ainda não parou. (Carlos sai)
(sozinho no palco Carlos vê em relances Ehflon com Ana sobre seu ombro sempre de costas em todas as direções: nas laterais, atrás e na frente do palco, sumindo e aparecendo novamente)
Carlos: Volte Ehflon, e me enfrente cara-a-cara seu covarde, você pagará pelo sofrimento que me causou seu desgraçado. Devolva-me minha amada, devolva-a, devolva-a agora!
Narrador: (frente-a-frente com ele) Deve aceitar os acontecimentos e seguir em frente Carlos, pois sua vida continua (ouve-se o quinto grito: Ana, Ana...) e o seu dia de partir chegará, assim como o de Ana, assim como o de todos nós. Pessoas sofrerão com sua partida da mesma forma que sofre. Você deseja que elas se entreguem totalmente ao sofrimento como você está fazendo?
Carlos: Não, mas ela é tudo que me resta de bom, e sem ela não há esperança para mim, entende? Já perdi meus pais e meu irmão num trágico acidente, não posso perdê-la também, não agora que mais preciso.
Narrador: Você é capaz de superar sua perda e continuar vivendo, ela fará falta certamente, mas a vida é imprevisível, coisas boas acontecem também todos os dias, basta abrir os olhos para elas.
Carlos: Não vou perdê-la, não deixarei Ehflonn tirá-la de mim por simples capricho, o sexto grito ainda não foi dado. Vou encontrá-la antes que ele atravesse a divisa e tomá-la de volta em meus braços. (o narrador sai e Carlos continua andando até que Odnan surge com vários suicidas)
Odnan: Achou que poderia me passar para trás, seu imbecil? (dá um soco e Carlos cai)Achou que eu era idiota?
Carlos: Deixe-me ir, não te devo nada e meu tempo está se esgotando, não me atrapalhe. (levanta-se, os suicidas estão espalhados pelo palco, furando os pulsos)
Odnan: Você deve sim, seu bosta, e vai pagar com sangue puro desta vez, ou não deixarei você partir para a sua “busca” entendeu? (dá outro soco e Carlos cai novamente)
Carlos: Entendi, o que você quer para me deixar partir?
Odnan: Vinte gotas (e dá um espinho para Carlos, que fura o pulso e despeja seu sangue na garrafa)
Carlos: Pronto, aí está, agora me deixe partir.
Odnan: É claro. (Dá vários chutes nele e cospe) Até a próxima visita, suicida. (ri)
Carlos: (levanta-se com dificuldade, e o sexto grito é ouvido: Ana, Ana...) Não... Ana... (cai de joelhos e chora com o rosto entre as mãos) Ana... Não, não...
Ana: Porque chora, meu amor?
Carlos: Ana? Conseguiu fugir das garras de Ehflonn, meu amor?
Ana: Não Carlos, não existe Ehflonn, não existe esse mundo nem todas essas pessoas, é tudo fruto de sua mente desesperada. Eu estou morta, Carlos, e nada poderá mudar essa situação, meu tempo na Terra acabou, mas o seu não. Você se encontra neste momento em uma cama de hospital, em coma causado pelo tiro que você deu em você mesmo.
Você optou por prolongar o sonho que você teve com este mundo e com todos esses personagens, meu querido, tudo o que você viveu aqui foi uma abstração da realidade moldada por sua vontade. Ehflonn é o personagem de um livro que você leu e, inconscientemente, você quis transformar sua vida em uma estória, mas a vida real não é.
Agora você precisa acordar, querido, e seguir em frente, como disse o doutor Ramos em sua terapia, a vida continua e coisas boas acontecerão. Volte e espere sua hora chegar, não desperdice sua chance tentando mudar a vontade de Deus, pois você poderá se distanciar de mim por muito mais tempo, meu amor, vá.
(apagam-se as luzes. Após alguns momentos acende-se um refletor no meio do palco onde se vê um divã onde Carlos encontra-se e, sentado em uma cadeira, o psicólogo-narrador)
Psicólogo: Você melhorou bastante, Carlos, é bom ver isso.
Carlos: Aprendi muito com o senhor e com os acontecimentos durante o coma. Gostaria de ler algo que escrevi para o senhor ouvir.
Psicólogo: Sinta-se à vontade.
Carlos: Quando as lágrimas não pesarem mais sua voz /como tantas vezes, e seu sorriso puder transpor/as nuvens desse até então duradouro temporal,/quando suas mãos sentirem a brisa carinhosa da superfície desse lamaçal voraz que por tanto tempo o sufocou/ocultando as cores da vida de várias vidas com seus momentos diferentes.
Quando tudo se tornar passado já nem lembrado/e seus calos sumirem sem deixar vestígios nem ruídos/e o sol brilhar como se nunca tivesse se posto/após a beleza do azul e do branco sem horizontes.
Quando sentir que ainda é quem sempre foi/e puder caminhar novamente sem correntes e âncoras/de náufragos após a neblina da incerteza de poder,/quando chegar esse dia – tão certo quanto a morte - /e sentir que ainda vive com a mesma vida daqueles/que não desistiram jamais de buscar sem nem saber o quê,/apenas com o rumo dos passos, não se esqueça então de viver o agora como nunca,/ pois nunca mais você poderá viver o agora.
(Enquanto ele lê passa-se um filme em um telão atrás do palco, com cenas da vida de Carlos, e quando ele termina, o final do filme é a recuperação dele. Depois aparece uma foto dele com Ana.)

FIM

05/05/2010

Ortografia Absurda 2

Seguem mais fragmentos de frases com palavras tão bizarras para sua própria língua que, algumas delas, não lidas com bastante atenção, podem sugerir pertencerem ao idioma de outra nação. Mas não enganem-se, pois realmente foram escritas para e por brasileiros que falam e escrevem o português desse país tão culto.

11. “...te protejer...”

12. “...fiquei muito contente de reseber o necosio (...) fico agradesido mesmo...”

13. “...às vezes descultia com você mais agora vejo que eu durmia no ponto...”

14. “...mesmo assim lá nu cél todos nóis iremos nos encontrar...”

15. “...nóis com versamos com o médico...”

16. “...vou ficando poraqui...”

17. “Olá meu filião (...) tudo bom porai? (...) esperu que au reseber esta carta estejão todos bem...”

18. “...amo muito você e estol morendo de saldades...”

19. “Não vejo a hora de ver minha familha nova mente...”

20. “Não ficaremos uma semana se quer sem sai, pacea juntos...”

21. “Você vai faze uma facudade e ser auguem...”
Poesia 5

Lembranças

Nós dois temos
noções paralelas
do que chamam amor.

Não me convenci,
não se arrependeu de seu erro.
Mas permanecemos de mãos dadas.

Te perdoei
(como sempre perdôo)
como também já me perdoou.

Nos abraçamos,
compartilhamos palavras
sussurradas no arrepio
dos corpos unidos.

E por três anos
foi apenas isso.
Apenas por três anos
foi isso, só isso.

Só três anos.

Poesia 6

Momentos

Nessas órbitas em que circulam
sonhos que dissipam minhas lágrimas
encontro um sorriso mirado no espelho quebrado
e momentos remotos de um silêncio duplo.

São essas palavras que digo
apenas devaneios noturnos
no banquinho de um lugar só meu,
onde me encontro quando decido me encontrar.

Se me chamam numa noite estúpida
minhas palavras não se desmancham
enquanto vejo luzes brilhando no céu.

E esses olhos tão distantes
encaram-me por um segundo
e me vêem como não me vejo
e me ouvem como não falei.

Sem abraços e sem carinhos,
apenas procurando motivos
de falar sobre quem falei.

30/04/2010

Sobre a Poesia 1

Parece-me óbvio mas talvez não o seja para todos, e não subestimando a capacidade de ninguém, escrevo antes para mim mesmo como afirmação do conteúdo do que para outros como explicação. Até o sapato lacear pode causar bolhas nos pés e, só quem as teve e sentiu tal dor, pode saber o suplicio causado. Mas a dor passa, as bolhas cicatrizam e o sapato laceia, não causando mais dor até tornar-se imprestável ao ponto de poder apenas ser jogado fora, sendo substituído por um novo par que, antes de lacear, cause mais bolhas e mais dor, suportada mais facilmente por encontrar-se já calejado cada pé.

29/04/2010

Ortografia Absurda

Em meu trabalho tenho acesso a diversos tipos de correspondência, por tratar-se de local de internação coletiva, e a obrigação de lê-las para exercer a censura estabelecida pelos critérios do local fez-me por diversas vezes encontrar palavras escritas abominavelmente. Tratam-se de cartas que entram e saem para e de familiares e amigos, além de bilhetes de movimentação interna onde são cobrados medicamentos e outras providências. Em alguns casos, devemos reconhecer, o problema é a falta de empenho do governo em investir em educação, porém, em outros – e talvez na maioria deles – o pobrema é devido a fauta di impenho dos iscritor.

1. “Venho atraveiz deste pedir pôr favor qui estou nessecitando de uns...”

2. “Venho pedir uma pomada ati siquitrasante...”

3. “... espero que você si encontra com saúde...”

4. “Manutenção nas discarga...”

5. “Registro do chuveiro ispanadu...”

6. “...lá na frente viemos refleti melhor.”

7. “Por mais que eu teja te visto ontem...”

8. “...vou terminano a minha minsiva...”

9. “É serto qui você ira venser esa guerra...”

10. “Aesperança é autima que morre...”
Poesia 3

Distinção dos cortes

Nessas horas surge,
se faz num disco que não tenho,
e sua voz me ensina sem palavras
e som o que se encontra...

Além daqueles dias
estão os dias antes dos dias,
e as lições que não foram ditas:
- Nem tudo é sorriso quando o espelho embaça,
por trás da neblina encontra-se a lama.
O rosto nem sempre sorri por trás da máscara.

E é assim a solidão:
nunca está só.

Ainda sem a clareza total
de um dia que um dia nasce
se escuta a voz:
- Nem tudo é tristeza quando o espelho embaça,
Escondem a criança os gritos de dor.
Nem todos os cortes são para a morte.

E se ouviu o que permanecerá.
Apenas um segundo e tudo se esclarece:
O ontem morreu,
o agora vive e
o amanhã nascerá.

Poesia 4

O que não se evita

Caçamos as dores,
e suas presas eram afiadas.
E soluçamos e nossos olhos lacrimejaram.

Caçamos as dores
com intenção de matá-las,
mas não tinham fim.

Caçaram as dores
meus ancestrais, e foram
derrotados.
Caçamos as dores e seremos também.

E em todo fim de tarde
sinto a umidade desses olhos no espelho,
e as marcas de uma vida de pedra.
Caço as dores.
Sou sua caça.

28/04/2010

Poesia 1

Até o sapato lacear

Difícil o dia?
Não diga maldizeres,
espere o amanhã.
Sem temores de novas dores
espere por novas surras.
Que os calos tornarão as próximas
menos doloridas.

Poesia 2

Os discos


Tudo que cala de dores
e tristeza passa,
e apenas se ouve a voz,
mesmo que como choro
e lamentos permanece a voz.

Todo sofrer é válido,
tudo se esquece, caleja.
E mesmo depois,
quando não se percebe a dor,
vêem-se os calos que ficaram.
E não como lembrança da dor,
mas como vitória,
devem ser encarados.

Pois tudo passa,
e ficam apenas as palavras.
Ecoando.

21/04/2010

Contos de Zés

1

O Zé do Pinote foi um sujeito encontrado num puteiro meia-boca da cidade, onde um amigo meu entrou para apreciar a paisagem enquanto bebia uma cerveja após longa jornada de trabalho. Uma das garotas simpáticas que ali trabalhava sentou-se em uma cadeira de sua mesa, perguntando-lhe se queria companhia e, tendo confirmação, informou-lhe ser necessário que ele pagasse uma dose de Uísque. Ele concordou, imaginando os dez quilômetros que teria de andar até chegar a sua casa, mas o sacrifício valia a pena.
Após certo tempo chegou o personagem e, permitido por ambos, sentou-se junto à mesa. Passadas quase duas horas de conversa proveitosa e agradável, tendo o sujeito pago mais três garrafas de cerveja e uma dose de Uísque para outra moça simpática que ali chegara, meu amigo sugeriu-lhe pagar pequeno valor que havia pechinchado com uma das profissionais para que esta oferecesse seu serviço aos dois em um quarto que havia no estabelecimento.
Ouvindo a proposta o sujeito levantou-se com dificuldade pelo excesso de bebida e com a voz arrastada de embriagado falou:

- Cês...Tão qquerendo...ingambelá eu...

E saiu num pinote cambaleante porta afora até perder-se de vista. E eis o porquê do apelido.

2

Em outra ocasião esse mesmo amigo, a quem atribuirei o pseudônimo Careca, na intenção de comprar DVD`s de boa qualidade a baixo custo, uniu-se a conhecido seu para juntos buscarem em cidade vizinha os produtos desejados. Partindo da Rodoviária da cidade de origem, chegaram ao destino final após hora e meia, tendo pegado um circular para tanto.
Encontrada a banca com prévia indicação, o acompanhante de Careca perguntou ao vendedor:

- Quanto custa o DVD?
- Três por dez.
- Três por dez? Mas o que é que eu vou fazer com três DVD`s iguais? Tá me tirando?

E saiu, irritado, dando as costas ao vendedor, que nada entendeu da reação do sujeito esquisito. O episódio rendeu-lhe o vulgo “Zé Três por Dez”.

3

Certo dia, ao conversar com Careca, este me contou que um conhecido seu, chamado Marco, havia lhe contado o seguinte ocorrido:
Tendo ido ao cinema na última sessão assistir um filme que há tempos sentia vontade e, após longo mês de trabalho duro, conseguir o dinheiro para tanto, voltava caminhando para sua casa distante uns cinco quilômetros com a carteira ainda repleta das notas com as quais pagaria as dívidas no dia seguinte. Passava da meia-noite e o movimento na cidade era escasso. Uma noite de quinta-feira. Chegando próximo a um ponto de ônibus onde três sujeitos encontravam-se sentados, fato que o intrigou levando-o a pensar se os três não sabiam não haver circulares no horário, chegando a sentir pena dos indivíduos, foi abordado por eles que anunciaram um assalto. Se reagisse levaria uma surra. Não sabia se estavam armados e poderia levar mais que uma surra. Os três o haviam cercado e correr não daria. O pensamento da possibilidade de perder todo seu dinheiro levou-o a fingir que estava passando mal. Um dos sujeitos pediu que tivesse calma e perguntou se ele estava bem.
- Eu... tenho...epilepsia. – disse Marco com a mão no peito, simulando o início de um ataque.
- Calma, calma, senta aqui no banco. – disse outro e, no momento de bobeira, abriram espaço aproveitado por Marco para correr para a avenida onde, providencialmente, o semáforo encontrava-se vermelho e alguns carros aguardavam o sinal verde.
- Socorro, socorro, um assalto, tô sendo assaltado! – gritava Marco desesperado, pedindo ajuda a um motorista parado.
- Corre prá longe. – respondeu.
E ele correu até o bingo que se encontrava aberto, do outro lado da avenida, relatando o ocorrido ao segurança que o aconselhou a esperar a saída da perua que levaria os jogadores até suas casas. Ganhou a carona e não perdeu o dinheiro. Nunca mais foi ao cinema na última sessão. Nunca mais fingiu um ataque e ficou conhecido como “Zé Epilético”, sem ter epilepsia.

24/02/2010

Deletei todo o conteúdo para aperfeiçoá-lo e postá-lo paulatinamente, podendo ser lido desta maneira e receber cada texto seu comentário individualmente ou em pequenos grupos. Informo ter feito tudo isso para o melhoramento de sua leitura e, por isso, acessem sempre, pois pretendo incluir novas postagens ao menos uma vez por semana (no mínimo).